Cestaria de Junco – Seis gerações de uma família de arte (Com Fotos)

14 Julho 2020, 9:02 Não Por João Dinis

São a quarta e quinta geração, de uma família que já vai na sexta geração, conta-nos o Senhor António Lourenço da Silva, que desde sempre trabalha o junco, moldando-o em verdadeiras obras de arte, que também se revestem de enorme utilidade.

O junco, que ele depois do seu filho, ensinou também a sua neta a moldar, conta-nos com orgulho, é uma planta que nasce em sítios bastante húmidos e que pode atingir cerca de metro e meio de altura, sofrendo depois da colheita todo um tratamento de secagem e pintura, que é um dos segredos da família, que vem passando de geração em geração.

Nelson Silva tem nos últimos anos inovado toda a arte da cestaria. Com a “Juncus”, uma marca que criou, tem dado um novo fulgor e enfrentado a “crise” provocada pela revolução do plástico, que segundo nos contam os artesãos, colocou em risco esta arte tradicional de transformar uma planta numa cesta ou numa mala.

Desde os primórdios o homem sempre teve necessidade de guardar e transportar os seus bens, pelo que se perde no tempo a arte de moldar o junco em cestas, as famosas “gulosas”, que no Alentejo são as “leva tudo” e no Norte as “ceiras”.
Transformar uma erva daninha, para os agricultores, numa cesta de transporte, foi um dos engenhos que o homem arranjou para guardar os seus bens, e assim poder transportá-los em segurança.

Nos dias de hoje, e com todos os materiais com que se fazem sacos e malas de transporte, os artesãos tiveram que se reinventar e para além das “gulosas”, tradicionais e que muita gente ainda compra, nem que seja para recordar os velhos tempos, fabricam-se também malas dos mais diversos modelos, cores e feitios, capas para cadernos e agendas, porta-moedas, carteiras, bases, e tudo o que possa estar ao alcance da imaginação e do molde de cada artista.

António e Nelson contam-nos que, em média, uma peça demora oito horas a realizar, isto contabilizando todo o processo necessário para a elaboração da obra, colheita, secagem, pintura e moldagem do junco.

A colheita, é feita na altura do Verão, pelo que os artesãos partem para o campo por volta das 6 horas da manhã, regressando por volta da hora de almoço, depois de deixar o junco ao sol, a secar, um dos processos fundamentais. Após a secagem o junco é pintado com uma técnica especial e que se recusam a revelar, “é um segredo com muitos anos, o junco que seja pintado uma vez, já mais perde a cor”, conta-nos António Silva muito orgulhoso da arte que aprendeu de seu avô e seu pai.

António Silva é artesão mais clássico, e Nelson mais inovador, que tem já em mente diversos projectos, que espera colocar em prática já este ano, prometendo trazer para o mundo da moda inúmeras inovações, sempre com a arte de moldar o junco como base para todos os seus trabalhos.

A família Silva é neste momento uma das poucas que ainda trabalha o junco em Portugal, sendo que Nelson e a sua filha são mesmo os mais novos a fazê-lo, facto que os deixa muito orgulhosos.

Moldar uma peça é entrelaçar “fios” de junco no tear, com uma arte que só está ao alcance de verdadeiros artistas… conjugar cores, relevos e realizar as partes das peças, que depois são unidas para dar vida às obras é um trabalho verdadeiramente artístico, que tem agora a oportunidade de ser premiado como uma das sete maravilhas culturais de Portugal.

Até quarta-feira, 15 de Julho, decorrem a votação, pelo 760 207 751, para eleger a Cestaria em Junco, como uma das 7 finalistas nacionais, da Cultura Popular Portuguesa (categoria Artesanato).

Pode acompanhar o trabalho da família Silva, no site da Juncus (juncus.pt), ou através das páginas na rede social Facebook.

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