Poluição da ITS Marques divide deputados municipais de Coruche

13 Julho 2020, 20:59 Não Por João Dinis

O reconhecimento de interesse municipal para a instalação de uma nova unidade fabril do Grupo ETSA, dedicado ao fabrico de rações para aquacultura, junto às instalações da ITS, na Estrada da Lamarosa, dividiu os deputados municipais na Assembleia Municipal extraordinária, que se realizou na última sexta-feira, 10 de Julho, no Pavilhão Gimnodesportivo de Coruche, ao denunciaram um foco poluente da fábrica, que se instalou em Coruche há mais de 20 anos.

A administração da empresa solicitou à Câmara Municipal de Coruche que atestasse o interesse municipal da nova unidade fabril, num investimento de cerca de 3 milhões de euros e que se estima venha a gerar 14 postos de trabalho, de modo a que pudesse cortar alguns sobreiros, para ali construir a unidade fabril, que carecem ainda assim de autorização do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), bem como de outras entidades ambientais e governamentais, sendo que a empresa terá que plantar o dobro das árvores que cortar.

Após a nota explicativa do Presidente da autarquia, Francisco Oliveira, sobre a intenção da empresa e quais as suas necessidades, foram diversos os deputados municipais que pediram a palavra, com os deputados do PS, Isabel Martins e Osvaldo Moreno, a insurgirem-se contra esta “carta-branca” do município, uma vez que a fábrica ITS, que opera na recolha e tratamento de matérias proveniente de matadouros, de explorações pecuárias, de canis e gatis e de outos centros convencionais de recolha, coincinerando-os, polui o ambiente, sendo frequentes os maus cheiros, nas localidades circundantes da empresa, nomeadamente na Lamarosa, Frazão e Erra, denunciando ainda outras actividades que consideram ser fortemente poluentes.

Isabel Martins e Osvaldo Moreno, que vivem em localidades nas imediações da unidade fabril, referiram que são inúmeras as vezes em que se sente o mau cheiro da fábrica, bem como a roupa fica com gordura proveniente dos fumos da queima dos detritos animais.
Não se pode abdicar da qualidade de vida e da nossa saúde em nome de alguns empregos, que não se sabem bem se vão ser criados…”, referiu Isabel Martins, que demonstrou mesmo ser a deputada mais indignada com esta solicitação da administração da ETSA.

Da mesma bancada de deputados, Joaquim Banha referiu que esta era mais uma oportunidade para o concelho de Coruche, pelo que o que o município deveria fazer era aprovar esta solicitação de declaração de interesse público, e depois fiscalizar a actividade da empresa, sobretudo a nível ambiental, uma vez que esta terá a obrigação de utilizar toda a tecnologia, com o objectivo de mitigar os efeitos para o ambiente.

A bancada da CDU considerou que iria votar contra, uma vez que nos documentos remetidos aos deputados municipais não se encontravam todos os elementos para que pudessem ter uma ideia concreta, nomeadamente o número de árvores a abater e a área de construção, facto que levaram também os deputados do PSD na Assembleia Municipal de Coruche a absterem-se.

No final Francisco Oliveira fez uma última consideração, dando conta que há muitos meses, se não mesmo anos, nenhum munícipe lhe havia feito chegar denúncia dos casos de poluição relatados pelos deputados municipais, facto que diz ter necessidade de verificar, uma vez que depois da intervenção tecnológica que foi feita na empresa, não faz sentido que existam ainda estas situações, que prejudicam não só as populações como também o ambiente.

Francisco Oliveira salientou que esta declaração de interesse público à empresa, em nada irá interferir com a decisão do ICNF, que pode considerar inviável o corte das árvores para edificar a empresa, que no entanto não deixa de ser um investimento importante para o concelho de Coruche.

No final da declaração de interesse municipal foi aprovada com 12 votos a favor do PS, 9 votos contra (7 da CDU e 2 do PS) e a abstenção dos 3 deputados do PSD.

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