Queixas sobre facturas da água obrigam Águas do Ribatejo e Ecoleziria a reverem modelo de cobrança

20 Setembro 2020, 21:11 Não Por João Dinis

Nas últimas semanas diversos consumidores das Águas do Ribatejo têm feito circular, sobretudo nas redes sociais, a sua indignação para com o significativo aumento do valor da factura, em grande parte provocado pelo valor da “Conta de Terceiros”, que reflecte o valor pago à Ecoleziria pela recolha de resíduos (lixos), que desde Fevereiro é efectuado pela novel empresa intermunicipal.

Outra parte do incremento diz respeito aos acertos verificados pelas contagens efectuadas no pós confinamento, a que acresce ainda o facto de os meses de Julho e Agosto serem os meses em que tradicionalmente se consome mais água da rede pública.

O Notícias do Sorraia foi ao encontro das respostas solicitadas por centenas de utilizadores, que diariamente expressam a sua indignação nas redes sociais, através do Presidente do Conselho de Administração da empresa, Francisco Oliveira, que nos começou por transmitir que “é importante fazer esse esclarecimento”, referindo que “estamos no processo de transição, transição daquilo que é a responsabilidade dos municípios, mais propriamente de Coruche e Almeirim, para a Ecoleziria, na componente da alta e da baixa, ou seja, a baixa é o porta-a-porta, a recolha dos contentores, que no modelo anterior era uma responsabilidade das autarquias e passou a ser uma responsabilidade da empresa Ecoleziria, no sentido de fazer toda esta recolha dos resíduos urbanos e obviamente também, não só dos indiferenciados, que é o vulgar contentor no lixo, mas também de outros resíduos recicláveis…”, salientando que “este processo de transição é crescente, e portanto é natural que demore aqui algum tempo até se ajustar e adaptar…

Sobre o valor das facturas que nos últimos meses têm chegado às caixas de correio dos clientes, Francisco Oliveira começa por explicar que “não houve aumento da água nem do saneamento”, sendo que “o que houve foi de faco um ajuste naquilo que tem a ver com o tarifário dos resíduos e esse ajuste no tarifário ocorreu no sentido de fazer reflectir na fatura tudo aquilo que é o encargo que os resíduos têm”, facto que este esclarece que “levou em alguns casos, a que esse aumento da factura final, porque o que chega a casa do consumidor é uma factura das Águas do Ribatejo, mas nessa factura está reflectido o consumo de água, o saneamento, os resíduos e as respectivas taxas associadas a esses serviços prestados.

O Presidente refere que “claramente as pessoas têm que perceber que cada vez que se abre a torneia, está-se a consumir água”, mas não só, pois o consumidor “está a pagar esgoto e resíduos, portanto de forma injusta, diria eu…”, pois no entendimento deste o modelo actual em que se paga a taxa de resíduos em virtude da água consumida “é injusta estar associada ao consumo de água, porque muitas pessoas, ainda que consumam muita água da rede pública, não são produtores de resíduos, eu dou um exemplo, um estabelecimento comercial de comércio a retalho ou serviços, que tem contador de água e consome água, mas provavelmente não é produtor de resíduos urbanos, e portanto está a ser taxado através da factura das Águas do Ribatejo, de resíduos urbanos que não produz e eventualmente até produzirá resíduos que são valorizáveis, nomeadamente o cartão ou o plástico…

Francisco Oliveira é bastante claro e no seu entendimento “tem que haver aqui uma avaliação daquilo que é o desempenho da empresa neste percurso, haver uma avaliação e uma correcção destes tarifários, no sentido daquilo que são algumas inadequações ao tarifário, elas poderem ser corrigidas e ajustadas”, bem como “um alerta para as populações, e isso fez-se mais sentir no período do Verão, porque este tarifário já é praticado desde Fevereiro de 2020, e portanto fez-se reflectir agora mais, nestes meses de Julho e Agosto, porque houve mais consumo de água naturalmente…”, dando o exemplos, “as pessoas regaram mais as hortas, as flores e claramente que cada vez que se consome água estamos a pagar também resíduos e portanto há que estabelecer este alerta, para que de facto as pessoas utilizem a água de consumo humano apenas para esse efeito e não para regar horas, jardins, piscinas, lavar carros, etc…

Ainda assim o também autarca em Coruche e responsável máximo pela empresa pública das águas em três, do quatro concelhos do Vale do Sorraia, refere que “a empresa também tem que avaliar aquilo que foi o desempenho, neste curto espaço de tempo, ainda que estejamos a falar de cerca de seis meses, mas que possa ser avaliado no sentido de rectificar, de corrigir a sua estratégia, de forma,a que ela seja mais amigável para as pessoas.”

O facto da Ecoleziria ser uma empresa muito recente e somente ter dois municípios a trabalhar consigo a cem por cento também não facilita o trabalho da empresa a que se junta ainda “a agravante que a Ecoleziria, que não tem aterro para depositar os lixos, tem que pagar para depositar os lixos na Resitejo, e esse encargo também onera muito a nossa fatura, significa que a Resitejo cada vez que aumenta o tarifário da deposição, significa que os munícipes têm que pagar mais essa deposição…”, considerando este que “há aqui também alguma justiça porque a Ecoleziria não é detentora de todo o ciclo dos resíduos e portanto significa que tem que contratar terceiros para que aceitem a deposição dos resíduos que são produzidos na Lezíria do Tejo…”, facto que leva a que “cada vez que a Resitejo tem dificuldades económicas, aquilo que faz é subir o custo do metro cúbico do resíduo que é produzido e isso faz-se reflectir claramente na factura, portanto também nesta componente do tratamento em alta é importante que estas entidades revejam os mecanismos no sentido de valorizar financeiramente aquilo que é valorizado, o papel, o cartão… da recolha selectiva… podemos implementar aquilo que é a recolha dos bio-resíduos, porta-a-porta, para reduzir o que vai para aterro, para se pagar menos taxa de deposição em aterro, e encontrar uma estratégia que seja comum para melhorar este sector.”

A área dos resíduos e muito complexa, existem muitos temas e diversas operações a este nível, mas temos que encontrar soluções que possam servir a Lezíria do Tejo, o Médio Tejo, mas que acima de tudo sirvam os cidadãos sem honorar esses encargos”, conclui Francisco Oliveira.

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