“…Este não é momento para podermos ter vergonha… estamos cá também para ajudar as pessoas…”, afirma Carlos Coutinho, Presidente da Câmara Municipal de Benavente que anuncia medidas económicas e de apoio às famílias para o seu concelho

10 Maio 2020, 22:50 Não Por João Dinis

Na terceira e última parte da entrevista ao Presidente da Câmara Municipal de Benavente, Carlos Coutinho, abordamos a pandemia do covid-19 e a sua relação directa com a economia do concelho, que vinha em crescendo no pós crise, com inúmeras empresas a procurarem os terrenos do concelho para aí se instalarem, o que levou a uma quase taxa zero de desemprego no concelho, sendo dezenas os trabalhadores de outros concelhos que diariamente se deslocam para os territórios de Benavente.

Carlos Coutinho é bastante pragmático e assume mesmo que, apesar de continuar a acreditar nas capacidades do concelho e dos seus habitantes, encara com prudência o futuro num pós covid, que não sabemos bem quando irá acontecer.

Há digamos que claramente uma questão que é transversal ao país, as micro e pequenas empresas sofreram muitíssimo com esta situação e falamos do pequeno comercio… que sem dúvida sofreu de impactos fortíssimo e que vai ter dificuldades neste próximo futuro, porque os hábitos das pessoas vão ficar de alguma forma reservados, a necessidade que temos de manter um conjunto de regras que são fundamentais e portanto nós temos enquanto latinos esta grande disponibilidade para convivermos, e por isso mesmo temos uma rede de cafés, e desse tipo de equipamentos em grande dimensão, que com as regras que estão colocadas para a reabertura vão ter muitas dificuldades e digamos que vamos ter aqui um percurso que não será fácil”, começa por nos referir Carlos Coutinho.

Para o Presidente da Câmara Municipal de Benavente, “esta é seguramente a área mais difícil, mas depois há outras, se falarmos naquilo que é o turismo, considerando que os especialistas apontam no sentido de que a retoma do turismo leve 18 meses…”, “sendo que o turismo não é apenas as pessoas que veem… há um conjunto de serviços que servem esta área, e nós também temos no nosso município algumas empresas que trabalham para essa área, e essas terão muita dificuldade…”, prosseguindo salientando que “nós temos muitas empresas de referência na área, que cresceram de pouco e se foram posicionando e criando uma dimensão extraordinária e foram importantíssimas para o nosso município”, referindo que de acordo com dados que considera importantes pelo seu volume de negócios, “nós vivemos a crise de 2008, que se prolongou por muitos anos, em 2013 o município tinha pouco mais de 700 milhões de euros de volume de negócio das suas actividades económicas, em 2018 esse volume de negócios já se situava acima dos mil milhões, é um crescimento extraordinário e que teve muito a ver com a capacidade que os nossos empresários tiveram para projectarem os seus negócios, se afirmarem e temos aqui alguns casos que são para nós extraordinários e nessa área também temos algumas empresas que levaram anos, décadas a fazerem um crescimento, a consolidarem esse crescimento e de um momento para o outro quase que como bateram numa barreira e vamos ver como se vão conseguir erguer.”

Apesar de toda a crise, no concelho de Benavente, revela-nos o seu Presidente, “temos outros exemplos de outras unidades que continuaram a laborar, falamos aqui da Silvex, que teve um dos primeiros casos, e a semana passada ligava-me o proprietário da Silvex para dizer que no meio de tantas más notícias tinha para me dar uma boa notícia, que contratou mais catorze pessoas para a fábrica, que é algo que nos dá um bom sinal”, sendo que “há outras empresas que aqui temos que também sofreram com isso, como o caso da João de Deus que está dependente do comércio automóvel, um conjunto de situações que creio que a prazo vão recuperar, mas também sofreram os impactos, tudo isso é um pouco como o país, embora aqui tenhamos tido algumas empresas que se mantiveram a laborar e a produzir, que é fundamental para o país.”

Com o covid-19 a fazer regressar o flagelo do desemprego, para números impossíveis de prever, o autarca de Benavente questionado por nós se temia o flagelo do desemprego no seu concelho, respondeu-nos de forma bastante elucidativa, “claro que temo”, acrescentando ainda que “todos nós no país temos que temer, julgo que tínhamos feito um percurso quase de pleno emprego e esta situação vem deixar marcas, e portanto vão subir significativamente as taxas de desemprego, e associado a isso iremos ter outros problemas, que são os problemas sociais.”

Sobre o momento que se vive e irá viver com o desemprego, Carlos Coutinho refere que “este momento que temos a seguir, será um momento extremamente complicado e que vai exigir de todos nós muito, porque a exemplo do que foi o final da última década e que se prolongou durante muitos anos desta década, estávamos numa situação com alguma estabilidade e com um crescimento que era muito importante e agora vamos viver situação muito dramáticas.”

Embora tenha que se entender que os municípios não podem legalmente extravasar as suas competências e injectar dinheiro nas empresas, facto a que o autarca dá relevância, pois de acordo com Carlos Coutinho, “é preciso perceber até onde nós podemos intervir no plano legal e esse plano legal não nos permite também entrar em apoios em algumas situações. Nós temos um enquadramento legislativo, que é aquele que decorre do covid-19, que nos permitiu um conjunto de tomada de medidas, de isenções, de taxas, etc… e vamos ver até onde é que a lei nos permite que possamos ir nessa situação e que as tomamos, nós e algumas entidades que estão connosco, a Águas do Ribatejo, entre outras, procurando ir de apoio àquilo que é, naturalmente não temos capacidade para injectar condições financeiras nas empresas, estando-nos até vedado isso legalmente”, clarificando que “às vezes faz-se a confusão como apoiamos… não podemos chegar a uma empresa e dar um apoio financeiro.”

Muitas vezes lançam-se as questões como se fosse possível, mas legalmente não podemos, quem o faz é obviamente o país através de um conjunto de programas que tem direccionados para isso e as câmaras municipais não têm propriamente esse alcance…”, elucidando ainda Carlos Coutinho que, “há um conjunto de medidas que nós podemos apoiar, aquelas que estão ao nosso alcance, as isenções das taxas, dos serviços que prestamos, entre outras, essas são medidas que nós tomamos, para procurar criar condições para que o comércio possa avançar, também nós estamos neste momento a apoiar muitas famílias, com um programa voluntário e outro, estamos a adquirir no comércio local, é portanto também uma forma de fazermos esse mesmo apoio.”

Uma das questões que mais tem envolvido a autarquia de Benavente é o apoio à população, sendo que o autarca demonstra grande envolvimento com a questão social que refere, “preocupa-nos hoje e vai-nos preocupar no futuro próximo. Tomámos medidas fortes para ir de encontro aos problemas que estamos a viver na nossa comunidade, num sentido que é este, todos nós estamos a passar por grandes privações, o facto de nos termos de confinar em casa é de uma violência tremenda, mas foi absolutamente necessário e aquilo que nós dissemos é que ninguém neste município pode ficar privado daquilo que são os bens fundamentais, e dissemos isto à população, no sentido de que mesmo aqueles que têm uma vida estável, perfeitamente normal, mas que de um momento para o outro neste embate tão forte se viram numa situação difícil, a nossa comunicação foi no sentido de dizer que este não é momento para podermos ter vergonha, porque verdadeiramente nenhum de nós tem culpa daquilo que aconteceu e por conseguinte já basta as privações com que estamos, para que as pessoas estarem a sofrer por não terem os bens que fundamentais e nesse sentido tomamos as medidas necessárias e hoje estamos a apoiar perto de trezentas pessoas, a quem fornecemos diariamente as refeições, quer seja por cabazes ou refeições confeccionadas, outros programas de apoio para que aqueles que estão mesmo praticamente com ausência de rendimentos, não possam ter dificuldades em poderem fazer face àquilo que são bens de primeira necessidade, como seja, os produtos farmacêuticos, a electricidade, o gás, mas isto é muito específico e para aqueles que estão em extrema dificuldade”, sendo eu todas as solicitações são “analisadas pelos nossos serviços, é uma solidariedade que tem que acontecer nesta altura e para a qual o município está a fazer uma acção que eu acho importante, e todos os dias nos chega mais gente a pedir, e nesta fase eu acho que as pessoas devem, se estão nessas condições, recorrer às medidas que o município tem disponíveis, depois há outras situações também, para além dessas, algumas que vão para além das competências da Câmara Municipal, mas que nesta altura são necessárias responder, como é o caso também desta nova realidade com que nos confrontamos que é o ensino à distância, que é fruto também do covid, que fez com que as escolas tenham que estar fechadas. O país tenta encontrar uma forma de mitigar esta situação, o ensino à distância está aí, há um conjunto dos nossos jovens alunos que não tem equipamentos informáticos”, estando também a Câmara Municipal de Benavente, como grande parte das câmaras do país, “a fazer um esforço, no sentido de poderem, não dar os computadores, mas vai ser a Câmara Municipal de Benavente a adquirir 350 computadores, que serão entregues aos agrupamentos de escolas, que irão servir no futuro para as actividades curriculares, são recursos que irão ficar ao dispor dos agrupamentos, porque acho que se tornam também uma mais valia e que neste momento os agrupamentos vão emprestar aos alunos para tentar fazer com que não haja aqui uns que ficam para trás relativamente aos outros. Agora isto tem uma dimensão tal, um número tão significativo de equipamentos, que ainda não estão disponíveis, nós pensamos que durante a próxima semana já começamos a entregar alguns computadores, muitos que estiveram de vir do estrangeiro…”

Estes são apoios fundamentais para alunos e para a sociedade em geral, sendo que o Presidente da Câmara salienta que “felizmente a Câmara Municipal de Benavente tem uma situação financeira que lhe permite tomar opções, porque as nossas opções eram de poder concretizar um conjunto de intervenções, realização de obras, com fundos comunitários e outras, que achávamos fundamentais para tornar o nosso município mais atractivo, e neste momento isso impõe-se também, é preciso que todos nós, também as câmaras municipais possam ter planos de investimento para ajudarmos a retomar a economia, mas neste contexto se necessário que algum dos investimentos programados tenha que ser direccionado para este tipo de intervenção mais social, nós não hesitaremos nisso mesmo e portanto vamos ver até quando é que esta ajuda vai ser necessária.”

Sobre a economia Carlos Coutinho salienta que apesar de desejar ter uma “atitude positiva, não está só nas nossas mãos, estamos a falar de uma pandemia global e com uma influência ao nível mundial, que vamos ver como é que a economia vai reagir”, esperando que os Estados e os governantes percebam a real dimensão e que possam ter medidas importantes de financiamento da economia para se poder relançar.

Toda esta reviravolta nas nossas vidas, imposta pelo covid-19, irá obrigatoriamente também obrigado o Município de Benavente a rever o seu orçamento, sendo que semanalmente são apresentadas propostas de rectificação de modo a poder enquadrar os apoios que a autarquia está a dar no âmbito das medidas do covid-19.
Ainda esta semana apresentei uma alteração de cerca de 300 mil euros para poder cabimentar as rubricas para um conjunto de acções que têm a ver com o covid-19”, refere-nos Coutinho, que refere que “nós mantemos a mesma determinação, pelas razões que há pouco falei, porque acho que é importante que as autarquias possam também dar o seu contributo para podermos criar mais emprego, dinamizar a economia, e isso também se faz com este tipo de intervenções, que são intervenções também necessárias para o bem-estar das populações.”

Este ano a Câmara Municipal de Benavente apresentou o maior orçamento da sua história, com uma forte componente de obras, que o Presidente refere que “algumas das intervenções que temos dizem respeito a questões que têm a ver com a eficiência energética, estamos a acautelar o futuro, do ponto de vista ambiental e na redução de custos face ao que é o nosso dia-a-dia. Como outras que também têm a ver com criar novos espaços urbanos, mais atractivos, até do ponto de vista daquilo que deve o aproveitamento turístico deste município, e portanto digamos que esse conjunto de intervenções nós mantemo-las também”, sendo que este assume que “se neste percurso nós tivermos que naturalmente fazer cessar alguns desses objectivos também o faremos em nome daquilo que são os interesses da população, se efectivamente for necessário que algum destes investimentos não se concretize para direccionarmos verbas para o apoio social, para a dinamização, seja o que for, também o faremos.”

Sobre os programas culturais e festa que têm sido cancelados, o Presidente da autarquia de Benavente, salienta que acabaram por ser um mal necessário, e sobre o futuro este prefere manter a cautela, acompanhando as directrizes nacionais.

De uma forma muito verdadeira dizer o seguinte, a minha sensibilidade pessoal é de que o momento que continuamos a viver exigirá que o país mantenha recato naquilo que são actividades de grande aglomerado de pessoas, essa é a minha sensibilidade”, sendo que no Município de Benavente “sempre alinhamos a nossa intervenção por aquilo que são as directrizes nacionais e temo-lo feito em todo o momento e em função disso, juntamente com as nossas colectividades e associações, porque o município felizmente tem uma rede de voluntariado muito forte e as iniciativas que acontecem no município, de índole cultural, grande parte delas são promovidas pela nossa população, através das suas associações e portanto este diálogo que construímos com eles, foi tomada a decisão de até ao mês de Julho cancelar todas as iniciativas. Era aquilo que no horizonte das medidas que estava tomadas se colocava como perfeitamente correcto de se fazer.
Este mês de Maio, vamos avaliar as outras situações, em funções também daquilo que o país determinar.”

Carlos Coutinho professe sobre o tema, afirmando que “não fazia sentido o Governo e a DGS dizerem, por exemplo, que em Setembro seria possível retomarmos algumas das festividades e o município estar já a cancelar, em perfeito desalinhamento, não faz sentido nenhum, e portanto, temos esta coerência e discernimento para avaliarmos momento a momento, porque também acho que é assim que as coisas devem de acontecer, embora eu pessoalmente tenha a minha perspectiva e sensibilidade, mas não queremos tomar medidas que não sejam devidamente articuladas, porque Benavente faz parte deste país e da forma como este país se posicionar é como Benavente também se irá posicionar, com as devidas características e adaptações que tenhamos que ter, mas neste momento é fundamental que possamos ter um fio condutor para que o país se possa orientar e aquilo que está a acontecer agora que é fazermos este desconfinamento de uma forma muito gradual, passo a passo, avaliar momento a momento, para que se tivermos que dar um passo atrás ou ter que ele acontecer, e é assim que encaramos este futuro e é assim que nos vamos conduzir neste sério problema que temos.

A concluir, o Presidente da Câmara Municipal de Benavente deixa uma palavra de grande apreço, “eu tenho dito de profundo orgulho para com a forma como a nossa gente sobe estar neste profundo desafio que todos enfrentamos, creio que passamos nesta fase com grande distinção, mas é preciso percebermos aquilo que é o nosso estado de alma, a formo como todos estamos neste momento em que fomos obrigados a estar confinados, alterar profundamente as nossas vidas, a nossa vivência, a nossa vida colectiva, e portanto aquilo que quero transmitir é que este momento que estamos a viver agora, tem que ter exactamente o  mesmo sentido de responsabilidade, a mesma determinação da parte de todos nós”, “termos a capacidade de percebermos aquilo que são as orientações que nos são deixadas, por parte da DGS, das medidas do Governo e de nos podermos posicionar dessa forma, só assim vamos conseguir ter sucesso, porque não foi pelo facto de nos termos confinado em nossas casas que eliminamos o problema, agora estamos a aprender a conviver com o vírus e são fundamentais as medidas de nos podemos proteger, das máscaras nos momentos em que devemos utilizar, a higiene que temos que fazer e continuar com esta postura extraordinária seguramente que nos levará, a podermos, não voltar à nossa normalidade que conhecemos, mas podermos fazer uma vida condicionada enquanto convivemos com este vírus, mas podermos ajudar a que o país também possa retomar num sentido importante que é da revitalização da sua economia, porque se não para além dos problemas do vírus teremos ainda outros problemas significativos, que são os problemas sociais.”

É este grande apelo que deixamos, para que possamos continuar desta forma extraordinária como soubemos nos posicionar perante este grave problema”, concluiu o Presidente da Câmara Municipal de Benavente, Carlos Coutinho.

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