Fio a Prumo – A Fêra

27 Setembro 2019, 16:57 Não Por Redacção

É em Setembro no dia dedicado a São Miguel.

Tenho memória dela desde há perto de setenta anos.

Era o ajuntamento anual do Povo.

Era o pó, tanta vez apagado pela chuva.

Chovia sempre na Fêra, era canja.

Barracas de tudo e mais alguma coisa.

Das mantas de Minde às botas cardadas

Loiças, barros com as mais diversas utilidades.

Comidas e bebidas, sofregamente ingeridos em mesas que sofriam de uma perna mais curta dos que as outras 3 a condizer com cadeiras desconjuntadas por anos e tombos.

“Vai um tirinho oh freguês!”, Soava constantemente no sítio das barracas “especializadas”, administradas por mais ou menos jovens garridamente pintadas e vestidas para chamar as atenções.

E a sina? Nunca faltavam as “bruxas” a vender futuros em papelinhos coloridos.

Carrocel, o “Montanha Nacional” e a célebre bola pendurada em sítio estratégico, a que só alguns conseguiam chegar com uma palmada ou um murro “bem assente”.

Barulho… qual barulho qual gaita . Aquilo era um bacanal de sons, imperceptíveis, arranhados, estridentes, desafinados, de pôr cabeças à roda.

Berravam os dos microfones em punho apelando á voltinha nos carros de choque, aos cobertores que naquela hora, é só mesmo naquele minuto se vendiam 6 pelo preço de 3.

Marketing puro e duro a que se chamavam “reclames”

O Circo Mariano fez história nos Sã Migueis. Depois outros mais modernaços ocuparam seu lugar.

Lâmpadas de 15 W alinhadas em fios compridos, com as suas cores já meio gastas pelas muitas intempéries em anos seguidos de função feérica nas Festas do Castelo e nas Fêras, quando não corriam festas na Vila Nova da Erra, Lamarosa, Biscainho e em tantos outros lugares. O Senhor Presidente da “Cambra” , a pedido, emprestava sempre. No mais recônditos lugares do Rossio brilharem as lanternas de cheiro intenso e luz quase nula, “movidas” a carbureto alumiando bolos e cavacas das Caldas quando não torrão de alicante.

Gente miúda, muito miúda por vezes, os filhos dos Feirantes começavam cedo na idade a dormitar onde calhava, não poucas vezes meio á chuva e ao frio. Eram os futuros Homens e Mulheres da Fêra, curtidos a barulho, pó, chuva, e muitas horas de mau dormir e pouco comer.

O mundo deu 50 mil voltas e hoje por hoje quem quer Fêra contente se com o que é possível.

As coisas que se enfeiravam eram só possíveis de achar por lá.

Os barulhos de então eram os de então. Irrepetíveis.

Igual, igualzinho, para que a continuidade ferial se dê, só talvez trincando uma FARTURA.

Fartura! Que lindo nome para um bolo de rua, comido na Fêra de São Miguel.

De ontem e de hoje.

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